Estudo de Romanos 10

Em Romanos 10 Paulo continua o seu argumento de Romanos 9, dessa vez com um pouco mais de sobriedade ao falar sobre o assunto. Neste capítulo ele mostra para o povo de Israel que eles sabiam de tudo o que estava acontecendo e da ausência de fé deles.

O capítulo está organizado da seguinte forma:

  • O fim da lei é Cristo (1 a 4)
  • Confessar o Senhor Jesus (5 a 11)
  • Todo o que invocar o nome do Senhor será salvo (12 a 15)
  • Profecias contra Israel (16 a 21)

Vamos analisar estes quatro tópicos.

Vídeo do estudo

Procuraram estabelecer sua própria justiça

Os primeiros versículos deste capítulo nos mostram um dos motivos pelos quais muitos israelitas não aceitaram Jesus:

“Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus. Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê.”

Romanos 10:3,4

Note como Paulo é direto ao afirmar que Deus estava mostrando uma justiça, que eles não aceitaram, pois estavam tentando estabelecer a sua própria.

Através das obras e do cumprimento da lei, o que eles claramente não conseguiam fazer, eles estavam tentando se tornar justos diante de Deus. Eles conheciam a lei, sabiam o que precisavam fazer, cumpriam os rituais, estavam nos templos, faziam as orações, davam as esmolas, mas não cumpriam muitos dos preceitos da lei moral.

Eles consideravam apenas os trechos da lei que queriam e ignoravam outros. Jesus deixou isso muito claro durante todo o seu duro discurso em Mateus 23. Destaco aqui apenas dois versículos:

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia. Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade.”

Mateus 23:27,28

Paulo está apenas reforçando aquilo que Jesus já havia falado tantas vezes: aquele povo não estava se salvando pois estava tentando cumprir com suas próprias forças os mandamentos da lei, considerando apenas parte dela e achando-se muito justos por isso. Mas a lei, mesmo que eles a cumprissem de maneira completa, não podia justificar uma pessoa.

Eles se vestiam da maneira que a lei pedia, mas não amavam seu próximo. Eles estavam nos templos sempre que necessário, mas não tinham misericórdia das pessoas. Eles cantavam os hinos de louvor a Deus, mas seu coração estava cheio de inveja. Eles pregavam de maneira clara sobre o que era necessário fazer, mas eles mesmos não cumpriam. Eles tentavam seguir a lei, mas não tinham fé em Cristo.

Um primeiro ponto que devemos refletir com muita profundidade é se as mesmas advertências não se aplicam a nós. O parágrafo anterior pode muito bem ser lido e aplicado para nós, cristãos da atualidade, se não tomarmos cuidado.

JESUS ACABOU COM a lei?

Como lemos que “o fim da lei é Cristo”, podemos nos perguntar se Cristo acabou com a lei e ela não tem mais validade alguma.

Como esse é um tema de grande discussão, é importante entendermos o que foi a lei.

A lei foi um conjunto de regras dado para o povo de Israel, através de Moisés. A lei está declarada em detalhes nos livros de Êxodo e Levítico.

A lei se divide em algumas classificações*:

  • Leis cerimoniais
  • Leis civis
  • Leis morais

As leis cerimoniais são as leis referentes aos rituais religiosos do povo de Israel. Um exemplo de lei cerimonial eram as das vestes:

“Falarás também a todos os que são sábios de coração, a quem eu tenha enchido do espírito de sabedoria, que façam vestes a Arão para santificá-lo, para que me administre o ofício sacerdotal. Estas, pois, são as vestes que farão: um peitoral, e um éfode, e um manto, e uma túnica bordada, e uma mitra, e um cinto; farão, pois, vestes santas a Arão, teu irmão, e a seus filhos, para me administrarem o ofício sacerdotal.”

Êxodo 28:3,4

Certamente essa lei não faz mais sentido para as cerimônias de hoje. Os costumes mudaram, as roupas mudaram, não temos motivos para acreditar que precisamos seguir essa lei. O próprio Cristo não exerceu seu ofício sacerdotal com vestes especiais, os apóstolos, na igreja primitiva também não tinham uma roupa especial quando pregavam para as pessoas.

Já as leis civis são amplificações da lei moral aplicadas no contexto do povo de Israel e são condicionais. Por exemplo:

“E quem furtar algum homem e o vender, ou for achado na sua mão, certamente morrerá.”

Êxodo 21:16

Essa lei, por exemplo, era uma lei civil, que impedia que o povo roubasse. Essa lei se aplica hoje? Claro que não. Hoje temos leis que governam os países e cada país decide qual será para este mesmo caso.

Estas leis cerimoniais e civis se aplicaram para aquele povo, naquela época e não fazem mais sentido. Tanto que em Deuteronômio, 40 anos mais tarde, algumas destas leis são alteradas. Israel recebeu estas leis enquanto eram peregrinos no deserto. Em Deuteronômio eles já estavam se preparando para entrarem na terra prometida e as leis precisaram ser revisadas.

Tais quais as nossas leis se adaptam com o tempo, as leis de Israel se adaptaram. Isso explica de maneira contundente a nossa relação com a lei. Não precisamos cumprir as leis cerimoniais ou civis que foram dadas para o povo de Israel.

Por outro lado, as leis morais, que estão resumidas nos Dez Mandamentos (Êxodo, capítulo 20), falam sobre o caráter de Deus e atitude de seus filhos. A lei moral não foi revogada com o tempo, mas Cristo interpretou-a em Mateus 5 para mostrar qual a nossa relação com ela:

“Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão será réu de juízo, e qualquer que chamar a seu irmão de raca será réu do Sinédrio; e qualquer que lhe chamar de louco será réu do fogo do inferno.”

Mateus 5:21,22

Note como Cristo não encerra a lei moral, uma vez que ela representa o caráter imutável de Deus. Pelo contrário, ele cumpre toda a lei moral em cada atitude, em cada passo que Ele deu. Ele amplifica o nosso entendimento, para que não fiquemos presos às palavras da lei, mas sim entendamos os princípios espirituais por trás da lei.

Logo, concluímos que a Lei, como um todo, não foi descartada, a parte da lei que representa o caráter dos filhos de Deus continua servindo como princípio para nossas vidas. As leis que eram específicas para os filhos de Israel devem ser estudadas e podemos aprender com elas, mas não é necessário que as cumpramos, muito menos se nossa intenção for a de sermos justificados por elas.

A lei é boa. Ao mesmo tempo, a lei não justifica, ela aponta para Cristo, em quem somos justificados, pela fé.

Quando Cristo vem e cumpre toda a lei, entendendo perfeitamente o que a lei dizia e cumprindo todos os mandamentos sem falhar, ele encerra, coloca um ponto final na lei e estabelece uma nova aliança, uma aliança que se concretiza através da fé.

Como expliquei acima, isso não significa que a lei foi descartada completamente, mas estava deixando claro para todas as pessoas que a lei nunca serviu para justificar, que a justificação de alguém só poderia ocorrer através da fé.

Confessar o Senhor Jesus

Então Paulo fala sobre a necessidade que temos de confessar Jesus para sermos salvos:

“a saber: Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo.”

Romanos 10:9

Aqui vemos dois aspectos da forma da confissão: um que é externo, “confessar com a boca”, e outro que é interno, “creres em teu coração”. Além disso também vemos dois aspectos do que está sendo confessado: o primeiro é que “Jesus é o Senhor” e o segundo é que “Deus o ressuscitou dos mortos”.

A primeira forma: “confessar com a boca”, usa o termo homologeō, que significa algo como “falar abertamente”, “concordar com”, “professar”. Ou seja, “confessar com a boca” significa concordar abertamente, de maneira pública, com a afirmação de que “Jesus é o [meu] Senhor”.

Nesta afirmação precisamos entender o que está sendo confessado. A palavra traduzida como “Senhor” vem do termo kyrios, que significa “aquele a quem uma pessoa ou coisas pertence” ou “proprietário”. Logo, ao confessar com a boca que Jesus é o Senhor, estamos dizendo abertamente que concordamos que Jesus é o nosso proprietário, que nós pertencemos a Ele.

Percebe como é uma afirmação forte? Dizer que nós somos de Jesus não é algo que devemos dizer sem um entendimento correto do assunto.

Nós somos propriedade dele. Sendo assim, Ele faz conosco o que quiser, quando quiser. Abrimos mão de sermos os donos das nossas próprias vidas, para que ele seja o nosso Senhor, o nosso proprietário, para sempre.

Também precisamos crer em nosso coração que Deus o ressuscitou dos mortos. Ou seja, precisamos ter a certeza de que Cristo morreu, pagou o preço dos nossos pecados, nos comprou, Deus o ressuscitou, fazendo-o vencer a morte e colocando-o para reinar eternamente.

O nosso proprietário pagou um preço por nós e vive para sempre.

Todo o que invocar o nome do senhor

Logo após Paulo fala o processo pelo qual as pessoas creem, começando com a conexão com o assunto imediatamente anterior:

Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam a paz, dos que anunciam coisas boas!

Romanos 10:13-15

Todos os que invocam o nome do Senhor são salvos. Paulo está citando aqui o texto de Joel 2:32:

E há de ser que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo; porque no monte Sião e em Jerusalém haverá livramento, assim como o Senhor tem dito, e nos restantes que o Senhor chamar.

Joel 2:32

Paulo então faz uma sequência de perguntas que nos mostram o caminho. Para que as pessoas creiam, é necessário que elas ouçam sobre Cristo. Para isso é necessário que existam pessoas pregando. Para que pessoas preguem, elas precisam ser enviadas.

O caminho é: pessoas são enviadas -> elas começam a pregar -> incrédulos começam a ouvir -> os que eram incrédulos creem -> crendo, eles invocam o nome do Senhor -> invocando o nome do Senhor confessam-no publicamente -> confessando-o, são salvos.

O apelo aqui é claro: precisamos pregar, falar de Deus para as pessoas. Nós, os que cremos, precisamos entender este envio e pregar para as pessoas.

Israel não creu

Por fim, Paulo fala que Israel ouviu mas não creu:

Mas digo: Porventura, Israel não o soube? Primeiramente, diz Moisés: Eu vos meterei em ciúmes com aqueles que não são povo, com gente insensata vos provocarei à ira. E Isaías ousadamente diz: Fui achado pelos que me não buscavam, fui manifestado aos que por mim não perguntavam. Mas contra Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente.

Romanos 10:19-21

Como eles ouviram e não creram, veio um outro povo que, mesmo sem buscar a Deus, encontrou-o e foram salvos. Essa foi a revolta de muitos dos judeus contemporâneos de Paulo.

Foi anunciado e eles não creram. Se não crermos, a mesma coisa acontecerá conosco.

* Dicionário Bíblico Wycliffe - Termo: "Lei", tópico: "Lei de Moisés" - Página 1140

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