No capítulo 2 de Romanos, Paulo acusa a falsa moralidade que tanto judeus quanto gentios apresentavam, demonstrando que ela não leva a pessoa à aceitação por parte do Senhor. Além disso, também explica para os judeus que a lei ou a circuncisão não garantem, isoladamente, sua salvação.
Neste capítulo vemos os seguintes assuntos:
- Choque de realidade (1 a 4)
- A recompensa das nossas obras (5 a 11)
- A obra da lei no coração (12 a 16)
- Olhar para dentro (17 a 23)
- O exterior e o interior (24 a 29)
Vamos falar sobre eles com mais detalhes.
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Choque de realidade
Paulo abre esta parte de sua argumentação mostrando que aqueles pecados dos quais acusou os gentios de cometerem, também eram cometidos pelos judeus:
“Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo.”
Romanos 2:1
A lista de pecados apresentada no final do primeiro capítulo era grande o suficiente para que todos os seus leitores pudessem se relacionar com algum deles em algum momento. Todos nós, independentemente de quem sejamos, cometemos algum, ou todos, aqueles pecados apresentados. Portanto, ao julgarmos as pessoas indignas da salvação por conta daqueles pecados, estamos nos colocando na mesma condição, uma vez que fizemos, ou fazemos, as mesmas coisas.
O argumento que alguns podem usar aqui é que já não fazem mais aquelas obras, portanto essa parte do texto não se aplica a eles. Esse pode também ter sido o pensamento de alguns judeus ao lerem essa parte da carta. Paulo, aparentemente preparado para esse questionamento, diz:
“Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência, e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento?”
Romanos 2:4
Afirmando assim que, mesmo que você já tenha se arrependido e abandonado a prática daqueles pecados, o fez apenas por conta da bondade de Deus, e não por ser uma pessoa boa, que merece a salvação por ter se arrependido.
Aqui Paulo, que construiu um argumento no capítulo 1, falando muito sobre as obras dos gentios, dá um choque de realidade nos judeus, mostrando que eles também praticam as mesmas obras.
O mesmo contrate vale para nós, cristãos da atualidade. Ao pensarmos que somos melhores que as outras pessoas, estamos esquecendo que cometemos no passado, ou no presente, os mesmos pecados que eles, e que seremos réus do mesmo juízo. Isso nos lembra que, como cristãos, não somos melhores que aquelas pessoas que ainda não se converteram, não temos motivos para condená-las ou nos colocarmos numa posição, por menor que seja, de superioridade.
A recompensa das nossas obras
A seguir, Paulo fala sobre qual é a recompensa de nossas ações, e que isso vale para qualquer pessoa, independente de ser judeu ou não.
O caso aqui é que Paulo está se preparando para mostrar ao seus leitores que os judeus, apesar de serem o povo escolhido por Deus, não tinham nenhum privilégio em relação à salvação. Eles tinham outros vários privilégios, mas nenhum que lhes conferisse a salvação de maneira diferenciada da dos gentios:
“Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus, o qual recompensará cada um segundo as suas obras,”
Romanos 2:5,6
Ao falar que Deus “recompensará cada um segundo suas obras” e, antes disso, que todos cometeram aqueles pecados, está deixando claro que a condição de toda a humanidade é a mesma: somos pecadores, incapazes de obtermos a salvação pelas nossas obras.
Ainda em relação às obras, Paulo afirma que todos estão na mesma condição:
“glória, porém, e honra e paz a qualquer que faz o bem, primeiramente ao judeu e também ao grego; porque, para com Deus, não há acepção de pessoas.”
Romanos 2:10,11
Se fizermos o correto, se procedermos da maneira que Deus espera que o façamos, honra e paz virão sobre nossas vidas. Isso vale para todas as pessoas.
O versículo controverso
A dificuldade maior de interpretação aqui está, talvez, no versículo 7:
“a saber: a vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, e honra, e incorrupção;”
Romanos 2:7
Alguns podem argumentar aqui que Paulo está se contradizendo, dizendo nesta passagem que aqueles que perseveram em fazer o bem terão a vida eterna e que, em outras passagens, afirma que somos justificados pela fé, salvos pela graça.
No meu entendimento, o ponto aqui é que Paulo está construindo um argumento que demonstra a impossibilidade de qualquer pessoa de “perseverar em fazer bem”. Sendo seres humanos pecadores, que só pela bondade de Deus chegamos ao arrependimento, é impossível para nós, sozinhos, perseverarmos em fazer o bem.
Esta linha de pensamento concorda mais com o todo das palavras de Paulo e das escrituras do que o pensamento de que ele está se contradizendo.
A obra da lei no coração
Paulo então mostra que o fato do judeu ter a lei, não lhe confere benefício salvífico, a menos que ele seguisse completamente a lei, o que ele já demonstrou ser impossível:
“Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados. Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei,”
Romanos 2:13,14
Acabando assim com a falsa segurança de que, por terem recebido a lei de Moisés, seriam especiais ou teriam a garantia da salvação. Só poderiam ser considerados justos se seguissem completamente a lei, sem nenhuma falha. Isso, mais uma vez, fica claro que é impossível para qualquer pessoa.
Para afirmar isso, Paulo mostra que os gentios, que não tinham ou nem mesmo conheciam a lei de Moisés, poderiam seguir a mesma lei, simplesmente por ser uma lei moral implantada pelo Senhor em seus corações.
Essa questão da lei moral é um dos argumentos para falar sobre a existência de Deus.
Olhar para dentro
Por fim, Paulo volta ao argumento inicial, falando sobre a necessidade que todos temos de, antes de julgar o próximo, olharmos para dentro:
“tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas?”
Romanos 2:21
De maneira que, a conclusão lógico de tudo o que ele apresentou nestes dois primeiros capítulos, seja essa:
“Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não na letra, cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus.”
Romanos 2:28,29
Aplicando isso em nossas vidas, podemos meditar sobre a questão de que o verdadeiro cristão não é aquele que decorou os versículos, que está todos os domingos na igreja ou que tem um cargo eclesiástico. Nada disso adianta se, interiormente, essa pessoa não estiver verdadeiramente regenerada, morta para a vida antiga, vivendo a verdadeira fé que Tiago descreve em seu livro. A salvação não é o que tem aparência exterior, mas o que é verdadeiro a partir do interior.
Em resumo, o que Paulo nos ensina aqui é:
- Muitos são os pecados que cometemos (1:21-32)
- A ira de Deus vem sobre aqueles que praticam o mal (1:18)
- Todos podem conhecer a Deus, nem que seja através da criação (1:20)
- Todos nós pecamos, por isso somos indesculpáveis quando julgamos as pessoas por algo que também fazemos (2:1)
- Diante de Deus somos todos iguais (2:11)
- Não somos salvos pelas obras (2:13,14)
- A salvação é para todo aquele que crê (1:16)
- A nossa justificação acontece pela fé (1:17)
- É a bondade de Deus que nos leva ao arrependimento (2:4)
Estes conceitos devem fazer parte da base da nossa fé.
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