Tão preciosa quanto o sangue por ela derramado.
O ser humano, embora imperfeito, procura perfeição em toda parte. Não encontrando, decepciona-se e rejeita até aquilo que poderia ser satisfatório e gratificante. É o que acontece, por exemplo, quando se deseja o cônjuge perfeito.
Na relação entre os indivíduos e as igrejas também ocorre esse tipo de busca. Sabendo que a igreja é composta por seres humanos, não haveremos de encontrar alguma que seja perfeita. Seria como buscar um hospital em atividade onde não houvesse doentes.
Cresce o número de pessoas que concentram seus olhares nos defeitos das igrejas. Não vamos negá-los ou fingir que não existem, mas não podemos também tornarmo-nos seus opositores ou acusadores, pois este papel já pertence ao Inimigo.
Precisamos encontrar um ponto de equilíbrio, onde possamos corrigir com amor, sem tomar atitudes destrutivas contra a obra de Deus.
Os problemas encontrados nas congregações cristãs podem incluir pecados, mas precisamos nos lembrar de que nem todo erro é pecado. Algumas vezes, críticas são proferidas e barreiras são levantadas simplesmente por causa de diferenças litúrgicas, usos, costumes, modismos ou estratégias de crescimento.
Algumas pessoas tornam-se especialistas em criticar e acabam se afastando da igreja. Quem é o maior prejudicado? O indivíduo que se afasta. Quem lucra mais com tudo isso? Satanás. Ele é o maior interessado na decisão daqueles que resolvem servir a Deus sozinhos em suas casas. O leão devora, de preferência, aquelas ovelhas que se afastam do rebanho.
Não existe família sem problemas, mas isso não justifica uma atitude de isolamento e individualismo. Precisamos caminhar juntos, procurando melhorar sempre.
Pode-se pensar que a igreja primitiva fosse perfeita, mas isso não é verdade. Há quem persiga o ideal de restaurar as características eclesiásticas do Novo Testamento. Embora isto possa ser excelente em alguns aspectos, é algo impossível na sua totalidade e não conduzirá a igreja à perfeição, pois desde os seus primórdios o povo de Deus cometeu erros e precisou corrigi-los. Quando o Senhor Jesus mandou que João escrevesse às sete igrejas da Ásia, várias repreensões foram a elas dirigidas. Havia ali muitos problemas e pecados. Contudo, todas elas eram verdadeiras igrejas do Senhor.
O grupo dos 12 discípulos de Jesus foi a célula mater da igreja. Pensando apenas nas ocorrências negativas (que é a nossa tendência), lembramos de Pedro e Judas Iscariotes. Nem aquele pequeno grupo teve a honra de ser perfeito. Quando Pedro negou a Cristo, deu mau exemplo e péssimo testemunho diante de todas as pessoas que se encontravam no pátio do sumo sacerdote, podendo levá-las a questionar o caráter de todos os discípulos, principalmente naquelas circunstâncias, em que o Mestre encontrava-se preso.
Na mesma noite, Judas suicidou-se. Fico imaginando a reação de sua família e amigos. Poderiam dizer: “Eu sabia que esse negócio de seguir Jesus não ia dar certo”. Naquela situação, os opositores pareciam cobertos de razão. Suas suposições ganhavam aspecto de verdade por não terem o exato conhecimento dos fatos, ainda mais diante da condenação e crucificação do Senhor.
Da mesma forma, encontramos, na igreja atual, muitos Pedros e Judas. Não podemos confundi-los, pois são bem diferentes. Pedro é o verdadeiro servo de Deus que erra, mas conserta. Judas é o falso. Precisamos distingui-los para não sairmos por aí condenando os líderes que Deus estabeleceu. Judas possuía uma característica marcante: sua cobiça pelo dinheiro estava acima de todas as coisas (João 12.6), chegando ao ponto de vender o Mestre por 30 moedas de prata (Mt.26.15).
Alguns líderes, que têm como propósito explorar as ovelhas com vistas ao enriquecimento pessoal, precisam ser notados. Não podemos ser seus seguidores. Contudo, o grupo dos discípulos não poderia ser avaliado com base nos erros individuais. Pedro arrependeu-se e veio a ser o principal dos apóstolos. Judas foi substituído por Matias e o grupo apostólico avançou, com sucesso absoluto, no cumprimento da missão evangelística.
Daquela célula surgiu a igreja do Senhor Jesus, que era e continua sendo a agência de salvação das almas.
Além dos nomes mencionados, havia os demais discípulos. Alguns eram bem discretos, sendo citados poucas vezes no Novo Testamento. Nenhum deles era perfeito, mas foram servos fiéis ao Senhor, assim como inúmeros líderes dos nossos dias, que não aparecem, não protagonizam escândalos, mas vivem para servir a Deus e ao seu povo.
Na carta enviada a Filadélfia, Jesus disse à igreja: “Eu te amo” (Ap.3.9). A igreja não é perfeita, mas é amada pelo Senhor. Ai daqueles que se levantam contra ela. A noiva do Cordeiro está sendo preparada para o encontro com o noivo. Naquele dia, será apresentada sem mancha, nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e irrepreensível (Ef.5.27). Entrará, então, na glória do Pai, tornando-se, para sempre, participante da perfeição de Cristo.
Autor original: Anísio Renato de Andrade – Bacharel em Teologia
Extraído de seu site pessoal