Neste estudo de Atos 15, veremos que este é um capítulo muito importante para a história da igreja e como nos enxergamos como comunidade hoje.
Neste capítulo lemos sobre os seguintes assuntos:
- A questão da circuncisão (1 a 31)
- Silas fica em Antioquia (32 a 35)
- Paulo e Barnabé se separam (36 a 41)
Vamos olhar com mais detalhes para estes assuntos.
VÍDEO DO ESTUDO DE ATOS 15
A questão da circuncisão
O capítulo 15 começa com Paulo e Barnabé em Antioquia. Lá eles percebem que alguns dos fariseus estavam tentando impor aos gentios a nacessidade da circuncisão para que eles fossem salvos:
“Então, alguns que tinham descido da Judeia ensinavam assim os irmãos: Se vos não circuncidardes, conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos. Tendo tido Paulo e Barnabé não pequena discussão e contenda contra eles, resolveu-se que Paulo, Barnabé e alguns dentre eles subissem a Jerusalém aos apóstolos e aos anciãos sobre aquela questão.”
Atos 15:1,2
Lemos que Paulo e Barnabé, defendendo que não era necessária a circuncisão dos gentios, entram em uma forte discussão com esse grupo de pessoas. A discordância era tamanha que eles não conseguiram chegar num acordo e precisaram levar a questão para a igreja de Jerusalém.
Aqui temos o primeiro aprendizado: às vezes vamos entrar em discussões que não vamos conseguir resolver entre nós. Precisaremos de pessoas mais experientes intermediando as conversa. Essa é uma das belezas da comunidade da fé: em todos os momentos podemos contar com as pessoas.
A marca da circuncisão
Vale aqui salientar que, para o povo judeu, principalmente para os fariseus, a questão da circuncisão era algo muito sério. A circuncisão tinha sido estabelecida como uma lei para aquele povo, para que eles fossem distintos do restante da humanidade. Era o sinal de que eles eram um povo separado para Deus.
A circuncisão era tão importante que até os servos dos judeus precisariam ser circuncidados, como lemos em Gênesis 17, versículo 10 em diante.
Creio eu que estes fariseus convertidos não estavam levantando essa questão por nenhum tipo de maldade em seus corações. Estavam praticando aquilo que haviam sido ensinados a fazer por toda a sua vida. Eles haviam aprendido que esta seria uma aliança perpétua, que deveria acontecer para que aquelas pessoas não fossem expulsas do meio do povo de Deus (Gn 17:14).
Aqui temos o segundo aprendizado: os fariseus tinham razão de que o cristão precisava ter uma marca de que ele fazia parte do povo de Deus. Só não haviam entendido que essa marca não seria física, num órgão do corpo. Essa é uma marca de vida, algo que não é feito por nós, mas pelo Espírito Santo agindo em nossas vidas. Devemos mostrar ao mundo que somos separados através de nossas atitudes, de nosso amor e da maneira como expressamos a nossa fé diariamente.
Podemos também fazer um paralelo com algumas coisas que Jesus ensinou, interpretando a lei de uma maneira diferente, muitas vezes mais intensa do que o costume. O mesmo princípio se aplica aqui: é muito mais impactante a nossa marca ser a nossa vida toda do que uma alteração física.
O discurso de Pedro
Já em Jerusalém, após apresentarem a questão para os apóstolos, Pedro se levanta e faz um discuros falando sobre salvação pela graça, e não pelas obras.
“Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós podemos suportar? Mas cremos que seremos salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, como eles também.”
Atos 15:10,11
Devemos sempre nos lembrar que nossa salvação é pela graça, e não pelas obras. Não é o que fazemos, mas a graça de Deus sobre nossas vidas. Isso inclusive vai ser tão importante para Paulo que muitos de seus escritos vão reforçar este entendimento.
O discurso de Tiago
Após Pedro, Paulo e Barnabé discursarem, Tiago, outros apóstolo muito importante na igreja, toma a palavra e sugere a conclusão da discussão:
“Pelo que julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus, mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue.”
Atos 15:19,20
Note que ele não está dizendo que essa é a maneira pela qual as pessoas serão salvas, mas sim que era algo importante para que o convívio entre aquelas pessoas fosse saudável. Paulo vai falar um pouco mais sobre isso em 1 Coríntios 8 e em Romanos 14, interpretando muito bem a quesão:
“Assim que não nos julguemos mais uns aos outros; antes, seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao irmão.”
Romanos 14:13
A lição que temos aqui é uma lição de convivência: se algo que você quer fazer, escandaliza algum irmão que está entre vocês, não faça. A interpretação de Tiago vale para nós ainda hoje.
Paulo e Barnabé se separam
Após tudo isso, Paulo e Barnabé permanecem em Antioquia, continuando a ensinar a Palavra aos irmãos daquela igreja. Após um tempo, Paulo entende ser importante levar aquelas instruções para as igrejas que já tinham fundado e também entender como elas estavam. Barnabé faz a sugestão de levarem João Marcos com eles e, neste ponto, eles entram em discordância:
Alguns dias depois, disse Paulo a Barnabé: Tornemos a visitar nossos irmãos por todas as cidades em que já anunciamos a palavra do Senhor, para ver como estão. E Barnabé aconselhava que tomassem consigo a João, chamado Marcos. Mas a Paulo parecia razoável que não tomassem consigo aquele que desde a Panfília se tinha apartado deles e não os acompanhou naquela obra. E tal contenda houve entre eles, que se apartaram um do outro. Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre. E Paulo, tendo escolhido a Silas, partiu, encomendado pelos irmãos à graça de Deus. E passou pela Síria e Cilícia, confirmando as igrejas.
Atos 15:36-41
Precisamos nos lembrar que foi Barnabé: além de, como diz a tradição, ter sido um dos setenta discípulos de Cristo, também foi aquele que, em Atos 4 vendeu um campo e depositou o valor aos pés dos apóstolos. Como vemos aqui no capítulo 15, tinha uma boa relação com a igreja de Jerusalém, provavelmente, por conta de seu histórico de fidelidade. Além disso, foi o primeiro a confiar em Saulo (Atos 9) e foi quem o trouxe de Tarso para Antioquia (Atos 11).
O que quero dizer é: Barnabé era um homem de coração bom. Enquanto Paulo trazia, muitas vezes, palavras um pouco mais duras e mais diretas, Barnabé era aquele homem acolhedor, bondoso, um homem de segundas chances.
Nesta questão específica, referente a João Marcos, primo de Barnabé, os dois não chegam num acordo e concordam em separar-se. Paulo leva consigo a Tiago e Barnabé leva João Marcos.
Vemos alguns estudiosos dizendo que isso foi positivo, que a partir daí tínhamos duas duplas ao invés de apenas uma. Eu não vejo dessa forma, é uma interpretação minha apenas. O que vejo aqui é uma discordância séria, que levou dois amigos a se separarem. Não me parece algo que tenha sido tranquilo e cheio de beleza, pelo contrário, tenho a impressão de que este desentendimento foi um pouco sério. Não estou dizendo que Deus não usou essa situação para o bem, estou apenas dizendo que, na minha opinião, ela não foi uma situação das mais tranquilas.
O que aprendo aqui é que, com igreja, somos pessoas falhas, com manias e costumes diversos. A igreja primitiva nos mostra, desdo o nascimento dela, que viver em comunidade não é fácil. Este não foi o primeiro desentendimento entre os irmãos e não seria o último.
No fim de tudo, com costumes, manias e jeitos diferentes, devemos nos amar. Devemos nos lembrar que o amor vem em primeiro lugar e saber que é nessa diversidade que Deus nos usa para alcançar o maior número de pessoas. Ame a sua comunidade de fé, ame a igreja local e ame a igreja mundial!
Desafio do capítulo
Neste capítulo o desafio é encontrar outras passagens que falam de Barnabé. Note que falei sobre o que aconteceu com ele até aqui, mas não falei o que aconteceu com ele após esse momento de separação. Encontre isso na Palavra e deixe aqui nos comentários.