O capítulo 3 do livro de Eclesiastes, em minha opinião, se divide em três partes:
- Versos 1 a 8: o autor afirma que tudo tem o seu tempo determinado
- Versos 9 a 13: o proveito do trabalho
- Versos 14 a 22: questionamentos sobre o fim das coisas
Vou falar um pouco sobre como entender este livro e sobre os principais ensinamentos que podemos obter neste capítulo.
VÍDEO DO ESTUDO DE ECLESIASTES 3
Como entender Eclesiastes?
Para interpretarmos corretamente este capítulo, é imprescindível entendermos a situação do pregador. Sei que já falei disso nos posts anteriores, mas seria um descuido meu não reforçar que esta pessoa, aparentemente já no final de uma vida de muitas realizações, começava a se perceber na proximidade do fim e a se questionar sobre tudo o que havia feito.
Eclesiastes, como também disse anteriormente, não é um livro de respostas, mas um livro de indagações profundas, muitas delas as quais só serão respondidas em Jesus. Não temos como interpretar o livro de Eclesiastes sem considerar tudo o que Jesus ensinou.
Dou um exemplo: se interpretarmos isoladamente o versículo 19, qual conclusão chegaríamos?
“Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais, e lhes sucede a mesma coisa; como morre um, assim morre o outro; e todos têm o mesmo fôlego, e a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma, porque todos são vaidade.”
Eclesiastes 3:19
Poderíamos facilmente nos ater ao final do verso e entender que temos o mesmo valor que os animais, que não somos diferentes deles em nada. Sei que é um exemplo quase absurdo mas, dadas as interpretações bíblicas que vi ao longo da minha vida, não me surpreenderia se alguém pensasse assim. Por isso precisamos considerar tudo o que Jesus diz, nesse caso, por exemplo, em Mateus 10:31, por exemplo.
Por isso, meu primeiro apelo aqui é: não tente entender o livro de Eclesiastes isoladamente do restante das escrituras. Sei que em outros livros temos direções mais precisas, porém, em Eclesiastes, pela condição do autor, pela estrutura do livro, pelo momento em que foi escrito, nos é necessária uma avaliação mais ampla.
O que aprendo em Eclesiastes 3:1-8?
Primeiramente, e não pode ser diferente, precisamos aprender algo com a primeira parte deste capítulo: há um tempo para todas as coisas.
Enquanto meditava neste texto me veio à mente uma reflexão sobre como alguns cristãos sentem-se culpados por passarem por momentos difíceis.
Não é para menos que alguns de nós sintam-se culpados. Não são poucas as vezes onde vemos uma pessoa cristã lutando contra a depressão ser julgada como uma pessoa sem fé. Da mesma forma, já vi pessoas cristãs que adoeceram serem julgadas da mesma forma ou serem diagnosticadas como pecadoras e essa ser a causa certa de suas doenças.
Entendo aquelas que se sentem culpadas por estarem passando por um período mais difícil em suas vidas. Porém, o pregador diz aqui que existe tempo para todas as coisas. Existe o tempo inclusive de descansar, de parar um pouco, de se recuperar. Existe o tempo de se dedicar, de estar presente, de trabalhar intensamente. Tudo tem o seu tempo e não deveríamos nos culpar ou julgar as pessoas por estarem em um tempo diferente do nosso.
Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais, e lhes sucede a mesma coisa; como morre um, assim morre o outro; e todos têm o mesmo fôlego, e a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma, porque todos são vaidade.
No nosso entendimento do tempo de cada pessoa, devemos sempre depender do Espírito Santo. Caso contrário, facilmente nos colocaremos nos extremos:
- Um extremo é de pensarmos que devemos viver no tempo de trabalhar para sempre. Servir com toda a disposição, em todo o tempo, como se fôssemos robôs carregados pela bateria espiritual do poder do divino.
- O outro extremo é o de nos acomodarmos numa situação confortável, onde não servimos, só participamos da vida da comunidade quando convém, o oração é rara e a leitura da Palavra não existe.
Não podemos decidir por nós mesmos qual é o tempo em que estamos vivendo. Devemos depender do Espírito Santo para discernir qual é o nosso tempo.
Quem decide o tempo que você está vivendo? Sua vontade, seu medo de decepecionar às pessoas, ou o Espírito Santo?
E nos versículos 14 a 22?
Nos versículos finais deste capítulo, encontramos um pregador cansado, em reflexões profundas e, de certa forma, com angústia sobre o final de sua vida.
Quando lemos:
“Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó. Quem sabe que o fôlego do homem vai para cima, e que o fôlego dos animais vai para baixo da terra?”
Eclesiastes 3:20,21
Vejo que esta pessoa está angustiada por, apesar de ter feito tantas coisas e adquirido tanto conhecimento, percebe que o futuro e o julgamento final, estão fora do controle de suas mãos. Isso, para uma pessoa que fez obras tão grandiosas e viveu uma vida vencendo em cada projeto que tinha em seu coração, deve ser algo realmente desesperador.
Perceber que não controlamos o que acontecerá conosco, que a nossa vida não está nas nossas mãos, pode nos trazer terror ou paz.
Terror para as pessoas que acreditavam estar no controle de tudo ou para aqueles que vivem uma vida dissoluta, longe dos caminhos de Deus. Paz para aqueles que se entregaram a Jesus para servir por amor e abriram mão de suas vidas.
A conclusão do autor, até este momento de Eclesiastes, parece ser a única possível para uma pessoa que percebeu que não têm o controle de sua vida:
“Assim que tenho visto que não há coisa melhor do que alegrar-se o homem nas suas obras, porque essa é a sua porção; pois quem o fará voltar para ver o que será depois dele?”
Eclesiastes 3:22
Como que dizendo: já que não controlamos o que acontecerá conosco, a única coisa que nos resta é nos alegrarmos com o tempo que temos aqui, com o que fazemos aqui.
Uma conclusão que até sou capaz de entender, mas com a qual não me conecto. Lembro-me das palavras de Cristo:
“Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?”
Mateus 16:25,26
Jesus nos ensina que a nossa vida não está nas nossas mãos, não somos nós quem temos o controle do que acontecerá e, o melhor que podemos fazer, é nos entregarmos nas poderosas mãos do Senhor.
Paz.