Chegamos no capítulo tão falado de Provérbios 22. O versículo 16 deste capítulo marca o fim do que chamamos de “Provérbios de Salomão”, para começar o que chamamos de “Ditos dos sábios.”
Vale notar que essa divisão do livro de Provérbios que estamos usando aqui não é consenso. Ela é baseada na interpretação de um grande téologo, mas existem outras divisões possíveis. Não vou entrar muito neste assunto pois, mais importante que a divisão que fazemos do livro, é o que podemos aprender com o que está escrito.
VÍDEO DO ESTUDO DE PROVÉRBIOS 22
Parte final dos Provérbios de Salomão
Desta última parte dos Provérbios de Salomão, quero destacar o seguinte:
“Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele.”
Provérbios 22:6
Salomão nos ensina aqui que devemos educar as crianças no caminho correto, da retidão, de obediência ao SENHOR. O próprio livro de provérbios é uma ótima fonte de ensinamentos para as crianças.
A reflexão que tenho aqui é dupla, a primeira faço como pai de duas crianças: o que tenho feito para educá-los no caminho do SENHOR? Tenho ensinado-os a bíblia? Tenho falado com eles sobre a diferença entre o mundo e o SENHOR? Não menos importante: tenho dado o exemplo?
Quantos pais e mães vivem na igreja, servem, ministram, cuidam das pessoas, mas não dão o exemplo dentro das próprias casas?
Aqui é muito fácil começarmos a pensar nos exemplos destes que temos por aí, porém, não caia nessa cilada, a Palavra está aqui para nos ensinar, e não para nos fazer apontar o dedo para outras pessoas. O que é que você pode mudar na sua vida em relação a isso?
O segundo texto que ainda me chama a atenção neste capítulo é também referente às crianças:
“A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da correção a afugentará dela.”
Provérbios 22:15
Quando a bíblia fala da vara da correção, muitas pessoas encontram no texto a justificativa que precisam para fazer as suas vontades. É aqui que muitos pais afirmam que podem castigar fisicamente seus filhos.
Não vou entrar nesse assunto pois não sou especialista em educação infantil. Porém quero trazer aqui um ensinamento muito importante em relação à interpretação das escrituras: devemos nos lembrar que o texto foi escrito há milhares de anos atrás e a sua interpretação, inevitavelmente, passa pela lente da visão contemporânea.
Deixe-me exemplificar para ficar mais fácil de entendermos: se você lesse esse mesmo versículo estando na França, no século XVIII, entenderia algo completamente diferente do que entendemos no Brasil, no século XXI. No século XVIII, na França, as crianças trabalhavam desde muito novas no campo. Nesse contexto, onde a família ainda existia como um conceito forte, mas as crianças deixavam de ser crianças muito precocemente, o conceito de castigo era um. Na Inglaterra, no final do século XVIII, ápice da revolução industrial e do trabalho infantil em situações análogas à escravidão, a interpretação de “vara da correção” era outra.
O que quero dizer aqui é que é muito difícil para nós fazermos uma interpretação bíblica que não leve em conta a nossa realidade. Porém isso não é desculpa para interpretarmos a bíblia da maneira como nós queremos, para satisfazer aquilo que nós desejamos.
No final das contas, o que eu aprendo com o versículo da “vara da correção”? É que eu não posso ser omisso na educação dos meus filhos. Como eu vou fazer isso, aí é algo que vai estar ligado aos conceitos aos quais fui exposto ao longo da minha vida.
Ditos dos sábios
Dos versículos 17 a 21 temos uma pequena introdução deste novo trecho do livro de Provérbios e, dos 22 em diante, voltamos a ter diferentes provérbios.
Deste início dos ditos dos sábios, destaco o seguinte:
“Não sejas companheiro do homem briguento nem andes com o colérico, para que não aprendas as suas veredas, e tomes um laço para a tua alma.”
Provérbios 22:24,25
Vemos Salomão dizendo coisas parecidas nos provérbios escritos por Ele e a mesma orientação, de cuidado com nossas amizades, ao longo de toda a bíblia. Dos textos que se relacionam, um que salta à minha memória é o seguinte:
“Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor;E não toqueis nada imundo,E eu vos receberei; E eu serei para vós Pai,E vós sereis para mim filhos e filhas, Diz o Senhor Todo-Poderoso.”
2 Coríntios 6:14-18
Paulo está dizendo algo muito parecido: cuidado com as suas amizades. É claro que Paulo não está dizendo que devemos deixar para trás todas as pessoas que não são fieis a Deus. Aliás, ele é muito contundente ao falar sobre em sua primeira carta aos Coríntios. O que ele está dizendo é que devemos tomar cuidado com a intimidade e os relacionamento profundos que temos com aquelas pessoas que não compartilham da mesma fé.
Deixe-me dar um exemplo para que eu não seja interpretado incorretamente. Caso você, cristão casado, tenha discutido com a sua esposa, quem você acha que deve procurar para se aconselhar?
Opção 1: Seu pastor, um homem casado há 20 anos, fiel à sua esposa e a Deus.
Opção 2: Seu amigo de faculdade, com quem você voltou a conversar há pouco tempo e que, quando estudavam juntos, fizeram coisas que não seriam consideradas as mais cristãs das atitudes.
Novamente, o que a bíblia está nos ensinando em Provérbios e na carta de Paulo aos Coríntios, não é que devemos deixar essas pessoas para trás, ou que devemos julgá-las por serem pecadoras irreconciliáveis com Deus. Devemos apenas tomar cuidado com a profundidade desses relacionamentos e a influência que eles têm sobre nossas vidas.
Paz.