No capítulo 13 do evangelho de João temos uma descrição sobre a última ceia. Neste momento vemos os seguintes acontecimentos:
- Jesus lava os pés dos discípulos (vs 1 a 11)
- A explicação sobre o lavar os pés (vs 12 a 17)
- A indicação do traidor e a partida de Judas (vs 18 a 30)
- Amem uns aos outros (vs 31 a 35)
- Jesus anuncia que Pedro o negará (vs 36 a 38)
Assim como a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, a última ceia também é apresentada pelos 4 evangelhos. Vale entendermos bem o que ela significa e traz de ensinamentos para nós. Das 4 descrições desse momento, a de João é a mais completa.
De maneira interessante, os outros evangelhos (chamados sinóticos), apresentam o partir do pão e o compartilhar do vinho. Algo que João não faz aqui.
VÍDEO DO ESTUDO DE JOÃO 13
Lavar os pés uns dos outros
“E, acabada a ceia, tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que o traísse, Jesus, sabendo que o Pai tinha depositado nas suas mãos todas as coisas, e que havia saído de Deus e ia para Deus, Levantou-se da ceia, tirou as vestes, e, tomando uma toalha, cingiu-se. Depois deitou água numa bacia, e começou a lavar os pés aos discípulos, e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido … Depois que lhes lavou os pés, e tomou as suas vestes, e se assentou outra vez à mesa, disse-lhes: Entendeis o que vos tenho feito? Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou. Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou. Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes.”
João 13:2-5,12-17
Essa passagem é certamente uma das mais importantes deste capítulo. Para entendê-la precisamos de um pouco de contexto histórico.
Na época de Cristo as pessoas andavam de sandálias ou alparcas, como vemos na Palavra. Como os trajetos de um lugar para outro eram feitos em ruas de terra batida, os pés das pessoas se sujavam facilmente. Por esse motivo, em alguns lugares, existiam escravos que faziam o trabalho de lavar os pés das pessoas que chegavam a uma casa, por exemplo.
Lavar os pés foi o que Maria fez com Cristo pouco tempo antes, enquanto Jesus ainda estava em Betânia, na casa de Lázaro. Naquela ocasião, Maria unge os pés de Cristo com um unguento de grande valor.
Nesta passagem o próprio Jesus, o Senhor, o Mestre, o que havia acabado de ser recebido como Rei, lava os pés dos seus discípulos, daqueles que o reconheciam como Cristo. A inversão de papéis, a desconstrução de hierarquia aqui não poderia ser maior. Tudo o que havia acontecido até aqui é como se tivesse sido preparado para que o choque desse momento fosse o maior possível.
Lemos aqui que Jesus usa uma toalha para se vestir. Isso representa algo muito mais profundo do que uma simples troca de roupa. A palavra toalha, neste contexto, vem do grego lention, que se trata da toalha com as quais os servos de vestiam para trabalhar.
A mensagem que Cristo passou aqui foi essencial para que essas pessoas entendessem o papel delas no Reino: servir. Estes homens, pouco tempo depois seriam aqueles que assumiriam o papel de líderes da igreja, aqueles que fariam grandes obras. Que terrível erro seria se eles se ensoberbecessem pela posição que ocupariam. Como líderes, precisavam entender que eram apenas servos, os mais baixos servos que eles poderiam ser.
Esse é o nosso papel: servir às pessoas. De todas as formas que pudermos, com tudo o que tivermos, devemos servi-las. Não somos os maiores, não somos melhores por estarmos na igreja, por conhecermos mais, por termos algum cargo. Somos os servos, os últimos.
Jesus finaliza essa passagem com um mandamento repetido por três vezes: façam o mesmo uns para com os outros. A ênfase que Jesus dá para isso é imensa.
Por qual motivo deveríamos fazer isso?
“Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.”
João 13:34,35
A justificativa que Cristo dá para servirmos uns aos outros é simples: além de ser um mandamento é a maneira pela qual as pessoas conhecerão que somos discípulos de Cristo.
É por isso que o corpo de Cristo é algo tão sério. Este é o motivo pelo qual devemos amar os irmãos, servi-los, entender que somos seus ajudadores e que não somos superiores a ninguém: isso vai dar a certeza de que somos discípulos de Cristo.
Em minha jornada como cristão eu encontrei muitas pessoas dispostas a servir. Também encontrei muitas pessoas que queriam sentir-se superiores às outras, seja por conta de um cargo, de uma função, de uma posição social ou qualquer outro motivo.
Quando agimos desta forma, como se fôssemos superiores, estamos nos afastando da verdade, da realidade do que é ser igreja, o corpo de Cristo na Terra. Ser igreja é servir às pessoas, servir à comunidade e amar intensamente uns aos outros.
O apelo que temos aqui é: quem você tem sido? O primeiro ou o último? O servo ou o senhor?
Paz.
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